derrame de Reis

Ele tem aquele tempero que te falei sabes? Aquela desumanidade que o torna em algo perfeitamente equilibrado. É a proibição de tudo o que nos dá prazer e assombra a libido, como uma despersonalização de todo o ser. Ele coage-se a viver a vida como eu, nos recantos e desencantos de um coração desapaixonado de tão morto. Deixando passar a vida sem tirar aquele proveito carnal, sem rasgar a pele ou roer os próprios ossos. O controlo emocional que nele vejo é - na maior das ironias e paradoxos - a ausência disso mesmo, o desligar de todos os botões humanos que nos levam a amar ou odiar, que nos levam a retirar prazer de cada pequena coisa que fazemos e que - no final - pode vir a ter consequências. Ele tem tudo o que desejei para mim e não consegui, toda aquela firmeza e indiferença ao próximo, o aproveitar do presente ainda que distante, o cansaço de uma vida que passou sem dar conta, porque não foi - no final - vivida de todo. Ele tem aquela calma típica de quem nunca passou a linha, de quem nunca arriscou a pele, de quem nunca magoou o coração porque também não o teve, é isso - talvez - que invejo mais nele,a tranquilidade de ganhou com a desumanidade e racionalidade pura, tão assimétrica à algazarra de choros e berros de que fiz a minha vida, a hipérbole de todos os riscos e o azar de todas as perdas. Admiro-o pela racionalidade que sempre me falhou nas piores alturas.

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