não posso abraçar as palavras que sussuraste

ouve assim o meu coração a suar, a arfar sobre os gumes do teu peito. ouve-o gemer sobre a dor dos teus olhos, sobre a sobrecarga de muitos nós idos, de tempo idos, de memórias riscadas por vagabundos maníacos, de loucura feita, de corpo perdido. a raiva que tenho possui-me por me teres feito odiar este meu corpo que acolhe todos os meus vícios decalcados, todos aqueles que por luxuria não sei mais largar. e nem esse tu tão doce, nem esse tu que jurei saber em noites idas, nem ele é capaz de vir buscar aquilo que por avareza estrangulou, nem ele consegue esticar-se mais do que o típico apontar do dedo. oh malvados copos de vinhos, copos quebrados sobre o sangue do meu corpo, veias rasgadas, suicídios de madrugada, pudesses tu vir ver-me nua, gorda e gasta nesta cama em que tanto gemeste. viesses tu ver-me assim, tão finalmente cristalizada nesta minha loucura puramente doentia, oh pétala amarga, sangue de teor alcoolizado, vem dar de beber a esta minha boca seca de nós, esta minha boca desejosa de qualquer pedaço teu, de qualquer parte de ti. tira-me deste meu segundo domingo, destes meus erros porcos e típicos, leva-me daqui, leva-me ao colo, e deixa-me marcas pelo corpo, deixa-me sozinha e desventrada mas com algo definitivamente teu, algo que me diga que estiveste lá, algo que me diga que não passamos de loucuras de Verões idos, algo que me diga que não foram só palavras leves, palavras com o remetente errado, palavras que nem tu sabias dizer, palavras tuas que não passaram de enganos neste meu moldado coração.

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