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A mostrar mensagens de janeiro, 2011

a sua pele marcada na tua

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- não consigo mais ver-te aí, coberto do perfume dela. encharcado desse odor ácido e demasiado feminino para ser suportado. já não me interessa quantas vezes tomaste banho, ou há quanto tempo não roças esse teus olhar ordinário nas curvas das suas ancas. nem tão pouco desejo saber que roupa usaste na sua casa ou nos teus longos jantares de trabalho , não quero saber se puseste a roupa a lavar.  - tu disseste que ficavas comigo, que me aceitavas de voltar porque amor é amor. - e eu quis aceitar-te. quis que ficasses comigo mesmo que isso exigisse fazer das minha tripas, coração para te perdoar. e eu perdoei, acredita-me. no entanto eu não consigo viver na mesma casa que vocês os dois, e ver todos os dias, ao acordar, o rosto dela marcado no teu, o perfume dela marcado na almofada da minha própria cama. não consigo mais ficar a ver-te vestir e soar tudo falso pela madrugada, como se, em formato masculino, todas as manhãs vestisses parte dela em parte de ti. mas eu amo-te acredita que sim

espelho meu, haverá alguém que ame mais do que eu?

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sinto a tua pele marcada de encontro aos meus lábios rachados do frio, sinto a garganta gelar numa inspiração desse teu ar carregado de podres deles, podres de tudo o que pelo caminho apanhas. quiçá, um dia talvez respirar se torne bom, quiçá talvez um dia o espelho seja um bocadinho mais simpático com os elogios . talvez um dia ainda seja eu a princesa, sobre a qual se escreverão livros e se farão filmes de desenhos animados, que dirá ao espelho: " espelho meu espelho meu, haverá alguém que ame mais do que eu."  tomara tu. tomara eu. sinto as curvas do meu corpo arrepiadas, pouco confortável com a ideia da tua presença em tais lençóis. pensar em ti há muito que deixou de ser abrigo, como sonho para adormecer, que era sonho e fantasia ainda que acordada. ficar em ti, aí dentro deixou de seu o meu predilecto repouso, aquele que era primordial na minha existência patética que por altruísmo apaixonado, sempre girou a volto do rei que tens na barriga. custa pensar que - com o pen

não mata nem mói

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- como pudeste tu deixar-te enrijar de frio? como deixaste que ele te abraçasse no seu encanto mórbido de cadáver feliz? - sabes quando a dor que tens no peito não é sentida em mente, quando sabes que nenhuma puta de analgésico a fará desaparecer? é aí que chega o frio sobre a forma de morto sorridente. porque o gelo é uma morfina natural. funciona. adormece o estômago e o coração, e deixa-o morto, esmagado sobre a água solida que nos faz de chão e de tecto. deixa-o lá a enrijar em pedaços, até que um dia, mesmo que se consiga descongela-lo, a única coisa que resta são migalhas de miocárdio esmagada, pedaços de tecido morto. que não palpita, não mata, não mói.

foi aqui que ele me deixou, é aqui que ele me vem buscar (...)

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- quantos dias passaram desde que ele partiu? há quanto tempo o esperas? - não sei já, os dias já ultrapassaram os anos, as horas já ultrapassaram os dígitos possíveis, o segundos já ultrapassaram o contável. - e por que ainda aqui estás? - porque foi aqui que o conheci e foi aqui que ele me deixou. neste deleito de sempre, nessa minha praia predilecta, traçada pelas nossas cores berrantes, as nossas cores fartas e que tantas vezes me travam o coração, me rasgaram a língua com o ácido que as memórias guardaram. e eu sei o que estás a pensar: estou a perder o juízo. já não sei mais a data dos dias, o numero dos ponteiros do relógio. não sei mais que língua falo, que nome me chamam. estou perdida daqui, perdida de mim e deles. tudo porque fui abandonada, aqui, nesta minha praia por eleição, porque foi aqui que ele me deixou, foi aqui que o vi pela primeira vez. - e vais continuar aqui o resto da tua vida? - não, vou ficar até que ele volte. vou esperar até que ele volte. - e se ele não v

fiel fiel

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- gostei de te ver a comer batatas enquanto todos comiam carne. - porque dizes isso? - porque é bonito. ser fiel ao que se ama é bonito.