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A mostrar mensagens de junho, 2011
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Recordo-me de quando as minhas feições eram apenas rascunhos, quando sonhos faziam de todo sentido e brincar aos legos durante horas num cubículo sem sol fazia ainda mais. Tempos bem doces recordo, em que eu - de cabelos compridos e penteados, dois furos nas orelhas, pulsos limpos, língua e umbigo intactos - era ainda filha de duas mães, de feições semelhantes, de essências assimétricas e de corações de puro ouro, puro amor, uma pela filha que pai não teve - mãe esta de sangue que me viria a ensinar tudo o que sou hoje, tudo em que acredito - e outra pela filha que sempre quis e nunca pode ter - que me ensinou durante anos a amar aquilo que era diferente, porque todos somos diferentes, todos temos defeitos e todos somos, de maneira diferente, perfeitos. Tempo amáveis, dizia, em que eu - de inocência centrada num livro antigo, de religião escolhida, com valores morais do mais católico que se podia ver - era também neta de quatro avós, duas de sangue e duas de amor, de sangue havia a s
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"home is where you're comfortable dancing around without music on. home is in your arms, darling."
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eu estava bem, eu sentia-me bem, reconfortada com esse teu esquecimento quase imediato. eu tinha quase aceite a impossibilidade da remota hipótese do teu retorno, eu tinha-me habituado serenamente à voz rouca e engasgada da minha mãe quando desleixadamente ainda perguntava por ti. eu estava bem, eu estava tão bem, tão bem sem ti . sem te ter constantemente enfiado dos meus nunca-mais-serenos sonhos, nos meus nunca-mais-conscientes devaneios. até ao dia. até ao dia em que decidiste lembrar-me que te disse tantas vezes que iria amar-te sempre, com os meus lábios rasgando os teus no calor do meu desejo, lembraste-me assim a maneira bárbara como ousava dizer-to: "serei sempre eu a amar-te mais". e sou, ainda hoje o sou, amando-te sempre mais, ainda que agora pouco, comparando ao infinito de dias anteriores. boa noite dôdô.
"Assim mesmo, como entrevi um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o azul dos operários da Lisnave a desfilar, gritando ódio apenas ao vazio, exército de amor e capacetes, assim mesmo na Praça de Londres o soldado lhes falou: Olá camaradas, somos trabalhadores, eles não conseguiram fazer-nos esquecer, aqui está a minha arma para vos servir. Assim mesmo, por detrás das colinas onde o verde está à espera se levantam antiquíssimos rumores, as festas e os suores, os bombos de Lavacolhos, assim mesmo senti um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o bater inexorável dos corações produtores, os tambores. De quem é o carvalhal? É nosso! Assim te quero cantar, mar antigo a que regresso. Neste cais está arrimado o barco sonho em que voltei. Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grândola Vila Morena. Diz lá, valeu a pena a travessia? Valeu pois. Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe, no fundo deste mar, encon