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A mostrar mensagens de abril, 2012
Era quase verão quando acendeste a lareira naquele meu palácio de paredes, sem chão ou tecto, só barreiras. Ajeitavas ainda os troncos com cuidado quando ainda queimavas marshmallows junto da minhas pernas cansadas de estar de pé a convencer-te de que era árvore. A verdade é que o calor do verão ajudava as labaredas a ficarem de pé e iam derretendo o que sempre foi gelo no meu peito. Mas o verão acabou e os troncos que queimavas iam aguentando o inverno gelado nos nossos olhos cansados e nos teus menos sinceros e a lareira não acabou, sobrevivemos então à neve sem que troncos fossem substituídos, apenas estragados, e cada vez menos, cada vez mais frio iam ficando os meus dedos com a achegada da primavera. Por vezes, sentia quase a relva a crescer por baixo dos meus pés e sentia-me quase que amparada, quase que encontrada. Mas mais troncos tu não trazes e juntos ficamos a ver o fogo extinguir-se com o anunciar da tua partida, e o meu coração não parte, congela. E com o verão a chegar es
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derramaste-me

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o sangue deixa de doer sobre as veias, dizem eles (os cientistas) que quanto mais rápido se congelar os músculos melhor é a sua conservação. sou então intemporal segundo estes padrões, o meu congelamento foi tão rápido como eficaz, nada dói, nada mata, apenas dorme. dorme a tarde a toda, o verão inteiro para uma só sesta. uma bomba relógio que nunca vai explodir no meu peito, só no teu. nunca pensei vir parar aqui, a olhar para o meu café preferido e ver que me resta uma embalagem inteira fora do prazo de validade. e a culpa foi minha, quis deixá-lo para depois, nunca o quis esgotar com medo que o melhor de mim se extinguisse. e agora? agora o prazo já passou e eu continuo a ter a mesma embalagem em exposição, sem lhe poder tocar ou sentir aquele sabor amargo na minha língua inexperiente de quem nunca atingirá a maioridade a tempo. a tempo de quê?  a tempo de ti, de chegar a ti antes de estragar, de chegar até antes do prazo de validade expirar. mas expiramos não foi? eu congelei e

Derrames de perdões e humilhações

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Tinha tanto medo que ele fosse a algum lado que lhe disse que ficava, fiquei apavorada de tão irrespirável que era aquela pergunta e mesmo assim disse que sim, que ficava com ele o resto dos meus dias. O meu coração nunca vai conseguir dizer-lhe que não por mais que eu o comande que vá embora, o que deixe em paz. - Mas como é que podes ficar com ele depois de tudo o que ele te fez? Eu creio que o meu coração me impede de ver a maldade das suas ações, porque eu acredito que ele nunca me tenha mentido, apenas se esquecer de contar a historia toda, e eu sei que os meus olhos não vêem a maldade dos seus atos e sei também que numa relação destas não chega não mentir, há que contar toda a verdade. E é por isso que me sinto tão humilhada na presença dele, porque ele não me disse a verdade e rebaixou-me este tempo todo numa mentira. E eu sei que lhe disse que sim, mas estou pronta a retirar a minha palavra, o meu coração pode ser uma borboleta despedaçada nas mãos de uma criança, mas e

Derrames de leões sem garras

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Todas as manhãs eram frias naquele quarto, tudo à minha volta gelava e ganhava pó com a falta de jeito com as limpezas. E se ela está correta? E se tudo isto não passar de uma bomba relógio onde de mim só vão sobrar destroços, cacos de coisas que nem eu conheço, lixo daquilo que sou eu. E se tudo isto foram só sombras dos outros, se esta felicidade não passar de uma ilusão bem arranjada, que vou ser eu depois de ti? Eu que sempre fui cacos de felicidade, rasgões de sobriedade, que vai ser de mim quando perceberes que não é aqui que queres estar? Tantas vezes ouvi eu falar de sacrificios, falta de liberdade e pressões, e se formos apenas isso, a tal bomba relógio que referi? Vai valer-te a pena que és sonhador e apaixonado, vai valer-te de tudo porque és conforto quando eu sou sofreguidão, e a mim? E a mim que tudo são sombras da felicidade dos outros, eu que fugi de toda a gente quando ainda não tinha aprendido a agarrar-me com força para não deixar ir. E se for tempo de deixar ir?

derrames de sonhos que tiveste

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O desamor chegava agora de todo o lado, a carne misturava-se com o sabor jamais doce dos teus lábios e os teus seios parecia rejuvenescidos, quase melhores do que da ultima vez que os havia desejado. Sim, eu conseguia amar todos os contornos desse teus corpo de mulher tão diferente do meu, tão aprofundado e tão mais experiente do que as minhas noites de criança. Não podia dizer-te que não, vi-o com os olhos a queimar-me as costas, ouvi-o chamar o meu nome duas vezes bem alto, implorando-me que fosse embora, que te deixasse o corpo nu num desejo que não devia sentir e que renegasse aquilo que me fazias e que ele queria só para ele. E o meu corpo ficava contigo, dançava pelo teu enquanto sentia os teus dedos suavemente no meu sexo. Sussurravas: não vás, e ele do outro lado gritava: fica comigo . Carne e desamor eram aqueles segundos em que desisti dos teus contornos tonificados e me afastei de vez, na esperança ingénua de encontrar amor de novo num corpo que não era o teu.