Era quase verão quando acendeste a lareira naquele meu palácio de paredes, sem chão ou tecto, só barreiras. Ajeitavas ainda os troncos com cuidado quando ainda queimavas marshmallows junto da minhas pernas cansadas de estar de pé a convencer-te de que era árvore. A verdade é que o calor do verão ajudava as labaredas a ficarem de pé e iam derretendo o que sempre foi gelo no meu peito. Mas o verão acabou e os troncos que queimavas iam aguentando o inverno gelado nos nossos olhos cansados e nos teus menos sinceros e a lareira não acabou, sobrevivemos então à neve sem que troncos fossem substituídos, apenas estragados, e cada vez menos, cada vez mais frio iam ficando os meus dedos com a achegada da primavera. Por vezes, sentia quase a relva a crescer por baixo dos meus pés e sentia-me quase que amparada, quase que encontrada. Mas mais troncos tu não trazes e juntos ficamos a ver o fogo extinguir-se com o anunciar da tua partida, e o meu coração não parte, congela. E com o verão a chegar está completa mais uma volta ao sol e eu volto a ser a mesma, em pé sobre terra batida e molhada, com lama a sujar-me os cabelos e a chuva a cair-me no rosto. É primavera e chove, abril acaba e no meu palácio chove mil, choro eu e choras tu porque tens medo de ficar sozinho. E eu tenho medo de terminar a volta, quero parar o tempo e recuar, não quero o arrependimento que vejo no horizonte que não acaba, horizonte onde não estás presente. Porque o futuro das tuas palavras é incerto e incompleto, falta a certeza que tinha, a coragem que me tiraste naquela tarde que para ti era manhã. E eu morro agora no silêncio que me ofereces como desculpa, morro por achar-me usada e abusada, porque me falta qualquer coisa que afinal era amor, falta-me amor que foi tudo o que pedi, falta-me amor que foi aquilo que perdeste por mim.

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