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A mostrar mensagens de setembro, 2011

derrames da primavera em que me deixaste

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assim que o sol se pôs, se foi também o nosso sol por trás das colinas que nos esperam - ou esperavam - cansadas de encostarem a vales sem apoio. e, com o desencosto delas, fomos nós também, nesse determinante tão estranho no que toca a duas pessoas tão separadas: nós... parece uma memória irreal, há muito sonhada e esquecida, esse dia de uma primavera cansada em que me sorrias de lábios rasgados de beijos, com uma doçura em ti irreconhecível, enquanto me desenhavas flores de lótus nas minhas costas nuas, dizendo-me - naquela tua cama virada para o por do sol apagado - que simbolizava a pureza do meu ser, esse ser que tu amavas sempre , incondicionalmente . 

derrame daquilo que me tiraste

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para ti o desafio era amar-me, algo assim tão deliberadamente avariado, tão alucinado por natureza, que nunca te diz a verdade de chapa, que vai dizendo, vai explicando, vai-te contando pedaço a pedaço os cacos em que a sua alma se desfez. para mim o desafio era manter-te, ser-te fiel de alma quando o meu coração já o era, o meu desafio era nunca romper-te, não te cortar aos pedaços na frieza de uma lamina aguçada, tentar não te morder, não te roubar um bocado, não te arrancar a vestes no meio da rua. para ti o desafio era conseguir amar-me, para mim era amar-te um pouco menos, ou pelo menos não desejar cada pedaço teu em dentadas maiores do que a minha boca.

derrame do inverno que em mim criaste

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O congelamento do músculo é afinal o mesmo em todos, a dor debilitante que te faz querer vomitar e comer ao mesmo tempo é imutável, exactamente a mesma. É como uma mulher rabugenta com dores menstruais, tal e qual. De noite, quando o sangue insiste em gelar as veias e o peito ficar rijo, erecto do sangue perdido, que vai bombeando nas artérias mas que não volta nas veias gélidas neste inverno precoce, nestas noites em que me acordas ainda sonhando, nas noites em que não me sonhas. E os dedos dos pés tremer e o sangue não sobe, não circula, concentrando-se apenas no cérebro, ligado a toda a hora, sem descansar um minuto que seja, agora independente de todos esses sensores, independente de qualquer órgão sem ser ele mesmo. E o cérebro dita-me apenas a razão e nada mais, em todas as zonas sensíveis ao exterior o cérebro morre enxague, desliga, congela, deixando-me apenas com uma razão de visão apurada, olfacto preciso, mas que nada recebe de volta, nada sente de volta nos sensores agor
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- Tu tomaste-me como garantida, achaste que - por usar o teu anel de noivado - isso me tornava irreversivelmente tua. E eu fui. Fui tua em todas as noites, de segunda a sexta, em que esperei sozinha naquela enorme cama que para nós compraste. Fiz o jantar todos os dias - para mim - naquela mesa gigante da tua gigantesca sala de jantar, e esperei tantas vezes no silêncio daquelas paredes que me surpreendesses, que o teu tão desejado trabalho te desse um dia para mim. Eu esperei por ti em todos os dias em que me disseste que não virias, eu esperei-te na mesma, eu amei-te na mesma. Amei-te desde o primeiro dia até agora, até sempre. Mesmo sem saber se sozinho dormias, eu sozinha adormeci, de segunda a sexta, esperando todas as manhãs por ti na (mais minha que tua) almofada. E hoje vim até aqui, vazia, chupada até aos ossos, porque te amo, porque ainda te espero, e vim hoje devolver-te o anel de noivado com me deste, devolver-te este gigantesco diamante que usaste para encobrir as tuas fal