- Tu tomaste-me como garantida, achaste que - por usar o teu anel de noivado - isso me tornava irreversivelmente tua. E eu fui. Fui tua em todas as noites, de segunda a sexta, em que esperei sozinha naquela enorme cama que para nós compraste. Fiz o jantar todos os dias - para mim - naquela mesa gigante da tua gigantesca sala de jantar, e esperei tantas vezes no silêncio daquelas paredes que me surpreendesses, que o teu tão desejado trabalho te desse um dia para mim. Eu esperei por ti em todos os dias em que me disseste que não virias, eu esperei-te na mesma, eu amei-te na mesma. Amei-te desde o primeiro dia até agora, até sempre. Mesmo sem saber se sozinho dormias, eu sozinha adormeci, de segunda a sexta, esperando todas as manhãs por ti na (mais minha que tua) almofada. E hoje vim até aqui, vazia, chupada até aos ossos, porque te amo, porque ainda te espero, e vim hoje devolver-te o anel de noivado com me deste, devolver-te este gigantesco diamante que usaste para encobrir as tuas falhas, e o anel é lindo, tu tens os olhos mais bonitos que eu alguma vez vou amar. Mas hoje venho pedir-te desculpa, com estas lágrimas que durante a semana não me deixam falar, dizer-te que o amor não nos chega. E eu sei tu achavas que por eu não te dizer que não, por eu sempre aceitar tudo num sorriso forçado que tu já não ouvias ao telefone, isso significava que te perdoava os erros, e eu perdoei-te tudo em  publico. Fui a todos os teus jantares de amigos e jogos de golfe da empresa, fiz-me de mulher perfeita e fiel para todas as mulheres com quem me deixavas sozinha a falar sobre unhas de gel a noite toda. E sim, sempre fui capaz de te perdoar em publico, mas não penses que te volto a perdoar em privado, porque eu não sou capaz, nunca mais serei. Estou cansada, oficialmente fora de tua casa, com as malas ainda por desfazer no meu pequeno apartamento na Avenida, e vim aqui - desesperada por ti - na esperança cega de obter uma resposta sincera da tua parte, algo que me faça mudar de ideias, que me faça ficar. Porque tu já soubeste fazer-me ficar, e hoje quero que me faças de novo, que me faças nunca quer sair.
- Meu amor, fica. Eu vou voltar a casa, eu vou voltar para Lisboa, eu prometo.
- Obrigada, mas não vejo mais dedicação em ti, já não vejo nada em ti. Amar-te bastou-me durante muito tempo. E nem nunca precisei da tua sinceridade para ficar, mas hoje que te pedi, descaradamente, tu não foste capaz. Portanto, hoje sou eu a dar-te o anel.

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