Derrames de leões sem garras
Todas as manhãs eram frias naquele quarto, tudo à minha volta gelava e ganhava pó com a falta de jeito com as limpezas. E se ela está correta? E se tudo isto não passar de uma bomba relógio onde de mim só vão sobrar destroços, cacos de coisas que nem eu conheço, lixo daquilo que sou eu. E se tudo isto foram só sombras dos outros, se esta felicidade não passar de uma ilusão bem arranjada, que vou ser eu depois de ti? Eu que sempre fui cacos de felicidade, rasgões de sobriedade, que vai ser de mim quando perceberes que não é aqui que queres estar? Tantas vezes ouvi eu falar de sacrificios, falta de liberdade e pressões, e se formos apenas isso, a tal bomba relógio que referi? Vai valer-te a pena que és sonhador e apaixonado, vai valer-te de tudo porque és conforto quando eu sou sofreguidão, e a mim? E a mim que tudo são sombras da felicidade dos outros, eu que fugi de toda a gente quando ainda não tinha aprendido a agarrar-me com força para não deixar ir. E se for tempo de deixar ir? Como é que sei se não está na minha hora, a hora de dizer adeus, de deixar ir aquilo que amamos para não causar mais estragos. Diz-me se quiseres ir, não me deixes estragar aquilo que em ti é tão bom, diz-me quando quiseres virar costas, diz-me quando for hora de largar a mão para encontrares algo melhor.
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eu amo-te