foi aqui que ele me deixou, é aqui que ele me vem buscar (...)
- quantos dias passaram desde que ele partiu? há quanto tempo o esperas?
- não sei já, os dias já ultrapassaram os anos, as horas já ultrapassaram os dígitos possíveis, o segundos já ultrapassaram o contável.
- e por que ainda aqui estás?
- porque foi aqui que o conheci e foi aqui que ele me deixou. neste deleito de sempre, nessa minha praia predilecta, traçada pelas nossas cores berrantes, as nossas cores fartas e que tantas vezes me travam o coração, me rasgaram a língua com o ácido que as memórias guardaram. e eu sei o que estás a pensar: estou a perder o juízo. já não sei mais a data dos dias, o numero dos ponteiros do relógio. não sei mais que língua falo, que nome me chamam. estou perdida daqui, perdida de mim e deles. tudo porque fui abandonada, aqui, nesta minha praia por eleição, porque foi aqui que ele me deixou, foi aqui que o vi pela primeira vez.
- e vais continuar aqui o resto da tua vida?
- não, vou ficar até que ele volte. vou esperar até que ele volte.
- e se ele não voltar?
- ele vai voltar. porque foi aqui que nos conhecemos, nesta minha praia que tantas vezes lhe disse ser a minha preferida, foi aqui que ele falou comigo, que trocamos os primeiros sorrisos envergonhados. foi aqui que ele me deixou. foi aqui que ficamos. e é aqui que eu fico também. há sua espera.
- e se tiveres de esperar para sempre?
- se for a eternidade que me espera, é com a eternidade que fico. porque ele vai voltar. sei que não acreditas, mas ele vai voltar. porque foi aqui que nos conhecemos, na minha praia predilecta, foi aqui que ele me deixou. é aqui que ele me vem buscar, e eu vou estar à espera, como sempre, de sempre para sempre. nesta minha praia preferida, nesta em que ele me abraçou, abraçou para partir e abraçou para ficar.
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