e foi rasco de ti achar que em mim podias ficar. foi tão tipicamente ordinário que fizesses de mim uma puta como todas as outras. e eu que tanto me martirizo por achar que fui tão fácil, porque é isso que achas não é? achas que fui tão facilmente tua que nem consegues por em questão a minha capacidade de te ser fiel. achaste que, lá porque tinha voltado, isso significava que seria tua, de corpo inteiro e alma vazia, sim, porque tu nem interesse tinhas na minha alma existente. nunca quiseste saber, nunca ousaste ler as minhas entrelinhas, a minha maneira de ser sarcástica, de usar tanto hipérboles como eufemismos. nada disso era do teu interesse, chegavam-te umas dentadas ao de leve, uma respiração suave nos teus ouvidos, que te levavam a um orgasmo tão fácil e rápido. para ti, desde que a minha interacção permanecesse um mistério para a tua precária mente, então tudo estava bem, porque no teu pensamento primário, tudo o que era novo e que ainda não tinhas visto noutro alguém, era perfeito, era bom porque era diferente, logo para ti que eras tão igual, tão homogéneo em relação à humanidade que te faz de plano de fundo. talvez a única diferença fosse a tua real cegueira, por vontade, característica que (in)felizmente é pouco visível. de resto eras o padrão, moldado à imagem de todos eles, de tantos iguais, ordinários.
e no final, eu para ti era tão carne como tu para mim no inicio desta pseudo-relação trocada, de namorados desapaixonados, enganados na ideia de que viam alguma coisa um no outro. porque, verdade seja dita, não havia nada que pudesses dizer que fosse realmente interessar-me, nenhum filme, nenhuma sala de cinema cheia, nada. do inicio ao fim, o objectivo, o meio e o inicio é cama, areia, bagageira e pouco mais. e fomos carne. começamos carne e em carne morremos.
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