derrame embriegado
bebedeiras repetidas, simples utopias do que costumava ser a saudade, a cerveja entornada sobre as pedras da calçada daquela cidade alheia, e as manchas de vinho tinto nas roupas já escarlate. saudade, soubesse eu explicar o que fora para mim essa palavra tão portuguesa, a maior das fantasias humanas, a ideia de amar e ser amado, bebedeiras apenas, palavrões de taberneiros, nada mais do que lágrimas que embebedam vagabundos, do que crenças pura e ingenuamente infantis.
e ainda assim, certa de que no amor nada nos resta para além da eterna sofreguidão dos outros, a utopia de querer comer sem ser comido, ainda assim me perco, entre os desastres esperançosos de amores históricos, quando a única coisa que quero dizer-te é que o meu amor - utópico, ridiculamente irreal e injustamente morto - te espera neste espaço psicológico de inferno e insatisfação, no desassossego deste ruivos caracóis, de robe escarlate, sobre a lividez de lençóis pérola, com duas palavras apenas, sussurradas no apogeu do teu orgasmo, e com um egoísmo tão humano quanto eu: sê meu.
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