"Como sempre, acabei por ser eu a cair sobre mim mesma, dobrei-me sobre os meus novos vícios e, aceitando-te como minha droga, cobri-me de seringas e de saudades. Enganando-me assim num monogamia que nem nunca cumpri, despindo a minha máscara preferida, a minha lingerie preferida, mostrando-te assim as minhas cicatrizes e as minhas manchas. E no final, foste tu mesmo a derramar o meu sangue sobre o teu corpo disforme, enterrando-me exactamente onde me havias desenterrado antes. Farta estou eu deste cemitério de nós, estou cansada de engolir esqueletos nestas noites cada vez menos finitas em que insistes em gemer dentro de mim quando a única coisa que quero é morrer. Morrer fora daqui, longe de ti." Agosto 2010
há um ano com a estrela mais bonita do céu
Foi no intervalo da paixão dos meus dias que tive saudades de te ver ficar. Quis ajoelhar-me sobre aquela terra cheia de mortos, afogada em símbolos religiosos nos quais não conseguia acreditar. Quis deixar-me ali junto daquela arreia, mais perto de ti ainda que longe, onde sei que apenas o teu corpo descansa, imóvel e exangue, sob a crença à qual dedicaste a vida. Quis agarrar-te a mão, o peito, sem que isso te enchesse de dores, sem que isso te enchesse de coisa alguma. Quis que aquele espaço coberto de cadáveres conservasse o teu sorriso doce e excêntrico, aquele que a tua morte e a tua fraqueza levaram para bem longe de mim. Quis que, naquela campa com um mármore lindo, estivesse apenas o teu nome e nenhum outro, nenhum outro amor teu que a vida não me deixou conhecer. Desejei, com lágrimas a ferver-me as faces, que aquele jarro pregado à pedra não estivesse cheio de falsa flores e que as minhas - modestas, imperfeitas, apa...
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