Queres mesmo saber a minha opinião? Lembraste quando - numa conversa das nossas à luz inexistente de um café fechado - me perguntaste a que me sabia o amor? Lembraste que te respondi com uma doçura extrema - a mim - o amor sabe-me a muito. A ti, o amor que antes era o típico, aquilo que nem te aquece nem te arrefece, passou a ambos os extremos, ou te ferve - perdendo assim toda a tua essência, deformando as arestas daquilo que realmente és - ou te congela, solidificado cada veia até ao foco, até ao músculo, até aquilo que já não acelera quando se toca na ferida. O amor, para ti, é exactamente como o café, para ti. É aquilo a que te habituaste mal, que te deixa dormir embora sempre irrequieta, aquilo que sempre te soube mal, a puro fel, amargo até ao extremo, aquilo que sempre foste cobrindo de açúcar. No final do dia tu chegas à conclusão que nem gostas de café, detestas o sabor do café, e apesar de quereres moldar-te ao seu sabor natural, tu enches sempre tudo de açúcar. Tu e o amor são exactamente assim, tu queres encaixar-te nele, queres gostar dele, viver nele, mas no fundo, é tudo uma enorme névoa - de açúcar, neste caso. - uma enorme ilusão. Quem vê de longe fica convencido que bebes café, que gostas de café, tu própria dizes gostar de café, mas no final de tudo, tu detestas as amarguras tal como detestas as verdadeiras arestas da palavra amor aquelas que não foram polidas, aquelas que não foram açucaradas. Na minha mais sincera opinião, por mais que queiras gostar de café, por mais que queiras gostar de amor, tu és assim, e tal como as cobras, pode cair-te a pele as vezes que quiseres, podes até mudar de cor, mas há coisas que nunca mudam, e gostar de café não é coisa que se aprenda.

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