há um ano com a estrela mais bonita do céu
Foi no intervalo da paixão dos meus dias que tive saudades de te ver ficar. Quis ajoelhar-me sobre aquela terra cheia de mortos, afogada em símbolos religiosos nos quais não conseguia acreditar. Quis deixar-me ali junto daquela arreia, mais perto de ti ainda que longe, onde sei que apenas o teu corpo descansa, imóvel e exangue, sob a crença à qual dedicaste a vida. Quis agarrar-te a mão, o peito, sem que isso te enchesse de dores, sem que isso te enchesse de coisa alguma. Quis que aquele espaço coberto de cadáveres conservasse o teu sorriso doce e excêntrico, aquele que a tua morte e a tua fraqueza levaram para bem longe de mim. Quis que, naquela campa com um mármore lindo, estivesse apenas o teu nome e nenhum outro, nenhum outro amor teu que a vida não me deixou conhecer. Desejei, com lágrimas a ferver-me as faces, que aquele jarro pregado à pedra não estivesse cheio de falsa flores e que as minhas - modestas, imperfeitas, apanhadas pelas minhas mãos que, se não te choram, por ti sangram - não voassem por aí, sem ti.
Fez assim um ano que a terra perdeu um dos melhores anjos de sempre e o céu ganhou a melhor estrela de todas. Tenho saudades avó, tenho saudades de saber que podia esperar-te à nossa mesa nos nossos Natais. Espero que o teu deus te tenha conservado tal e qual e que um dia me deixe esmagar-te de saudades.
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