derrames das minhas letras sobre as nossas verdades

para onde foste tu naquela noite em que te esperei até madrugada? onde estava esse teu amor pingado que me obrigava piamente a te esperar? eu procuro. eu procurei e esperei por aqueles teus impulsos pelos quais me apaixonei, pelos ramos de flores na secretária do meu escritório e a banheira do quarto de hotel coberta de uma espuma colorida. eu procurei em ti - anteriormente a maior paixão dos meus dias - aquilo pelo qual de baixei, aquilo que me fez esquecer os vómitos que me dava a palavra amor, fazer amor, monogamia. e agora, que nos vejo a uma distancia ridiculamente metafisica, eu não encontro mais significados para palavras como essas, sem ser nas minha letras encantadas, que os convencem e que quase nos convenceram a nós de que era verdade. as minhas letras, pingadas por memórias dos teus amores, quase que me mentiam, quase que me faziam cair de novo no erro de te pedir em casamento. ao lê-las, ao longe e exteriorizando-me, eu acredito profundamente no poder das palavras que ali te escrevo, na força que o querer tem e na falta de relevância da saudade, derivadas de quilómetros de distancias longas e dias de solidão semi-aquecidas (ou imoralmente aquecidas?). agarra-te as minhas letras retocadas de amor, à lembrança da minha vénia com o vestido pérola de casamento, no horizonte escuro e embriagado da nossa noite de núpcias. prende-te na memória do meu primeiro sorriso, do primeiro desejo pela minha pele de criança, bem mais esticada que agora, bem mais fiel até. não deixes ir os bilhetes de avião rasgados que guardaste com tanto carinho na minha caixa de recordações, nem as fotografias as minhas manhãs de domingo e do peso que o teu amor tinha sobre aquela objectiva apontada às curvas feias do meu corpo agora engordado. não deixes ir. deixa que as minhas letras te mintam um pouco mais e que o meu abraço apertado - num gesto desesperado de perdão - te convença que este é o lugar, o teu lugar.

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