Cada batimento cardíaco é como um prego a trespassar a pele, cada palpitação outro prego e outra martelada no anterior. Cada um separado por micro segundos, cada vómito separado por aquilo que sou e aquilo que me imagino ser. A imagem que vejo no espelho não sou eu e a dor de me sentir assim parece que nunca vai embora. A minha vontade de estar feliz desapareceu e tudo se torna cinza em meu redor, tudo o que nos meus dedos tocou virou cadáver, tudo o que passou no meu corpo virou fera. Tudo de bom que passa por mim vira em coração furioso e mente transtornada. Não sou - hoje - mais do que alguém doente que gosta de ver tudo arder à sua volta, não sou mais que fogo sobre palha seca e inferno sobre a paz dos deuses. Hoje sou aquilo que odeias nos outros e aquilo que não queres para ti. Hoje não sou mais tua casa ou teu abrigo, não sou teu rochedo ou tua praia.
Sou nortada quando navegas em mar alto e maré negra em cada canto. Sou tudo o que não quero, tudo o que não consigo amar mais. Hoje e não só hoje, nunca mais só hoje, não sou algo que queiras. E não serei mais, não serei nunca, não voltarei a ser. Tudo o que relembro são mentiras, tudo o que fomos foi queimado. Filho da puta, penso inocentemente, escondendo de mim que puta é tudo o que sou.

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