Saudades de almas puras

Nunca senti este tipo de solidão, esta pancada pela tristeza, talvez porque alguém nunca me tinha deixado antes, não deste modo, não comigo ao seu lado. Outrora sentia-me tão mais segura, como se o meu modo de ficar sozinha me mantivesse sempre acompanhada. Enchi as minhas horas com tantos copos sem conta e tantas noites fora de casa que me sentia ocupada, com a alma vazia mas a mente sempre cheia de qualquer coisa sem significado. A morte, traiçoeira como a conheço, tem destas coisas, deixa-me sozinha quando estou deste modo tão rodeada de tudo.
Sei que um dia todos temos de ir para casa, todos temos de acordar nem que seja com o copo de água fria. E eu fui avisada, e acordada a meio de tantas noites das minhas, mas eu continuava simplesmente a sonhar, a deixar passar os sustos e os avisos, porque a vida parecia tão preenchida assim. 
Eu não sabia o que era estar vazia. eu não sabia o que era estar vazia até à um mês atrás.
Eu não conhecia a dor como a conheço agora, não conhecia a sensação de adormecer a soluçar. Sei bem o que é adormecer um lágrimas nos olhos, já fui criança triste, adolescente descontrolada, já tive as minhas guerras e as minhas retaliações. Mas não assim, nunca uma dor como esta, nunca uma que eu soubesses que não podia retirar.
Sei finalmente onde se aplica "o tempo cura tudo" e percebo agora que a palavra tudo é descontextualizada, cada um tem o poder de curar muita coisa, mas quando o mal está feito, quando a vida está acabada, quando o que dói é apenas saudade, é o tempo que nos cura tudo.
Sei bem que conto com mais uma estrela no céu, sei que as coisas com valor não se abandonam, perdem-se. E ainda assim sei que não estás perdido, sei que estás em casa onde te deixamos, sei que estás bem e sei que o que te resta agora são tudo sonhos. Porque saber é a única coisa que me faz sorrir enquanto choro, porque o resto é tudo saudade.

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