Nunca fui dada a grandes epifanias, não sem as escrever, nunca acordei um dia com a sensação de que os meus sonhos e pesadelos me tinham dito algo que eu não sabia. Ou sempre soube tudo ou ainda hoje não sei nada.
Considero que no fundo eu não tive um percurso de vida turbulento, não foi de todo o melhor e nunca me foi dado nada a que não tivesse direito, mas não vivi mal. Nasci no seio de uma família muito humilde mas com os melhores valores, que me deu todo o amor e apoio que precisei e que me ensinou grandes lições.
Tive uma mãe de sonho, daquelas que contado ninguém acredita, um verdadeiro anjinhos que sempre esteve lá para mim mesmo quando eu pensava que não precisava, insistia que não queria.
Quando ainda nem a maioridade tinha atingido - e há tão pouco tempo foi - lidei com alguns problemas na área da saúde e dei por mim num buraco onde me meti a mim mesma. Não fui de todo banhada de sorte nessa altura ou nessa área propriamente. Aprendi valores que não sabia que tinha e senti-me repelida em todas as direcções que tomava. E acreditem quando digo que, perder tudo aquilo que acreditamos tudo aquilo que somos, mudar o modo como nos vemos (ou não queremos ver) no espelho, é pior que estar perdida. É naquele período de tempo, estar perdido eternamente, como se nenhum lugar no mundo fosse levar aquela realidade dos nossos braços, como se nada que pudéssemos fazer fosse mudar a maneira como não conseguimos viver assim.
Mas nada havia a fazer e, como o outro, eu reguei as minhas plantas, eu desembaciei o espelho da casa de banho e eu segui em frente, eu tatuei esses novos valores no corpo e sorri de novo com o orgulho de ser alguém que antes não era. Porque a nossa essência fica sempre, mas a maneira como agimos sobre ela é que faz de nós quem somos, e isso é que nos faz amar cada vez mais todos os pedacinhos de nós.
E acreditem, no fim da história, eu amava-me bem mais do que alguma vez recordara.
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