lábios cremados

e naquela manhã empoeirada, num quarto sujo dos meus orgasmos fingidos, sob o ar carregado dos teus inaudíveis gemidos, os teus lábios souberam a pó. nada em ti soube e mim, nada pela manhã teve o perfume da noite anterior, dos dias anteriores. e não porque estavas gasto, demasiado usado apesar da tenra idade, não. o teu desgaste era de mim, de um corpo que conhecias como impuro, que sabias não ser fiel ao que desejava. sentia ainda os teus lábios cerrados sobre os meus seios quase inexistentes de miúda, e a ideia de te ter na mesma cama, desnudado de tudo, seria sempre o auge da minha libido. mas a ideia de te ter comigo, sempre na mesma mesa de jantar, em diferentes salas de cinema, já não seria o auge da minha satisfação pessoal, apenas um carrego, algo que seria desconfortável com o passar das horas. já não conseguia amar-te.
naquela manhã, o meu corpo levou a minha alma à imunidade de algo tão dramático como amar.

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