à tona
Mas eu ainda creio que és doce, que bem no fundo não passas de algo quente que for amornado até se tornar um gigantesco e intocável cubo de marfim. Mas eu sei que ainda és fina, de um certo modo delicada, que o teu pai ainda acha que bebes água em todos os jantares e que dormes sempre em casa de amigas diferentes, cujos nomes vais inventando com base na imaginação da noite anterior. Tudo porque tu não és tão fel assim, não és esse ácido que juraste a ti mesma cumprir, és - novamente - algo que era doce e que foi amargando ao longo do tempo, foi ficando enferrujado e perdendo a prática, o jeito. Mas no final de contas, tu foste a que nunca se deixou estagnar, a que não se deixou apodrecer e morrer nas mesmas ruas ordinárias de tantos outros sem nome. Tu ficaste acordada, alerta em relação a noites como aquelas em que foste deixada nua, sozinha, na tua piscina da casa de verão. Pronta a afogamento, longe de tudo o que - todo os dias - luta para te deixar a tona.
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