papá fica, papá não vás, sei que fui chorona, que fiz birra para comer a sopa, sei que não quis adormecer enquanto berravas, que berrei com a mãe sem motivo, e agora tu vais embora, e agora a culpa é minha. oh papá fica, fica para me ensinares a andar na bicicleta sem rodinhas do mano, fica que que quero ser levada ao altar enquanto me sussurras o quanto estás nervoso, o que me fará mais nervosa a mim. fica papá. quero ainda ver os demais filmes que alugarás e assistir às infinitas discussões sobre religião e politica, tão problemáticas nesta nossa casa tão pequenina. não vás mais embora papá, não vás e eu prometo que não saio nunca mais de casa, não fujo pelo terraço nem vou dormir à vovó, eu fico cá contigo, até que os teus míseros cabelos brancos se espalhem pela nuca e pela barba. fico cá para me ensinares a andar de carro quando for muito velha e a idade assim me pedir. eu vou portar-me bem, eu não vou discutir com o mano, eu não vou morder nos outros colegas, eu vou orgulhar-te com as minhas notas e esforçar-me-ei para ser a filha médica que tanto queres. se hoje ficares papá, eu vou dormir toda a noite, sem chorar, não vou chorar quando berrares com a mãe, não vou chorar quando a ouvir chorar, não vou chorar quando tiveres bebido meia garrafa e te tenhas tornado violento. eu não vou chorar papá, se não fores embora eu não vou chorar nunca mais.

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