amor utópico

contador de histórias, de sábados a rasgar o infinito e de domingos de légua curta. seria esta a descrição que encaixava no teu tom de pele meio morena, nos teus lábios a cada dia mais carnudos, de um rosa brilhante, quase maquilhado. seria assim que choraria os cacos da tua imagem, que gemeria essas memórias rascas dos teus lábios colados na minha pele pálida, relembrando como a tua respiração me levara - muitos anos antes - a sonhar alto de mais, longe demais. tudo porque sobre o suave toque dos teus dedos no meu rosto ingenuamente enrugado, ficaram memórias promiscuas das tua mãos grandes, alargadas à extensão do horizonte, perdidas entre os nós dos meus ruivos caracóis. memória que muitas vezes me rasgou a ideia utópica que tinha da tua sensibilidade masculina, tudo porque de nós apenas sobraram picos, com nada de cravos, nada dessas sempre utópicas rosas, oferecidas num qualquer dia festivo ou apenas quando dizer desculpa  se tornava demasiado utópico para um homem como tu, desses que nunca choram.

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