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A mostrar mensagens de dezembro, 2011

derrames a quem só pó resta

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sempre tive aquela raiva para ficar por cima, conseguir passar além da dor e ficar, de pé, sobre todos aqueles cacos em que desfiz o meu coração de desamores. e agora, agora que o presente me arrancou o cabelo e a moral, levando-me assim a pele e a carne vermelha, roendo-me deliciosamente os ossos. eu afogo-me nas mentiras que me conto, nas inseguranças que me comem membros as dentadas maliciosas e sedentes. eu afogo-me meu amor , vem tirar-me da imensidão de lágrimas que me enchem os pulmões de raiva e nojo.

derrames sem ar para ti

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o peito pesa-me a respiração e a dor não passa na manhã que chega, sorrateira, acordando-me com unhas de gato a espetar-se nas minhas costas. o meu corpo todo dói de cansaço dos dias que acumula e que não passam, dias que não ficam, dias que não amam, semanas em que o corpo apenas quer parar, apenas quer morrer, tentando numa sofreguidão medonha acabar com aquilo que não teve um inicio. mágoa, diria ele entre lágrimas de silêncio e lábios cerrados, gretados de frio; fogo, talvez fosse ele confessar-te, sem o confessar a si o amor de anos há muito idos e a paixão fervorosa que lhe corre no peito calado, inerte de tão morto; apatia, talvez uma das maiores palavras que - no final - nada nos dizem porque a ninguém falam. morrer é a maior palavra, a hipérbole de congelar tudo o que corre no corpo e não chega a alma, tudo o que o corpo sente e que protege o coração de sentir também. gelo, solidifica-se sobre o corpo este elemento que me causa...

Derrames de quem vai ter saudade

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Da lúcida certeza de que somos grandes à efémera sensação da efervescência daquilo que não sei se existe. Somos cada vez menos a um compasso desmedido que se perde e se desapaixona enquanto se arrasta ao longo de uma sombra que não escurece por mais que a luz falte e incida. Somam-se dias que de nada me servem, somando dias que se perdem, desenganando-nos de que ainda somos dois, roubando-nos a verdade para a mentira fazer crescer dores no peito que não se desprende deste vermelho que não me larga. Esgotaram-se, assim, os segundos, os momentos em que nos amámos no sol de tardes que já não existem e nos cariciamos na efemeridade de vidas que já não temos e que já não são nossas. E o que foi embora ? Perguntas tu tentando-me as lágrimas nos olhos que só choram raivas de palavras que não quero gritar-te, perguntas porque não fiquei à tua espera, porque guardo um rancor incansável das coisas que não me dizes, das coisas das quais não faço parte. Queres que diga a verdade...

derrames de tempo perdido

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Então e se o amanhã me vier dizer que não é esta utópica estabilidade que quero na minha vida? E se o amanhã de que te falo for mentira, inverso ou apenas imagem retocada de um objecto feio de tão magro? E se eu não conseguir fazê-lo? Que me dirias tu que és a maior mentira da humanidade, ó tempo? Tu que me mentiste nas minha lágrimas de miúda e me disseste que curavas tudo, que fazias tudo passar como sangue num rio sedento. Juraste assim o infinito dos meus olhos cheios de profundidades alheias, prometeste-te que alheio é bom e que tudo se constrói com base na partilha humana. Ó senhor tempo, que nariz o teu, que mentiroso me saíste tu, deixando crescer com padrões tão altos e morrer agora numa desilusão como esta. Soma-me mais uns segundos enquanto acredito, soma-me mais uns minutos para um café e conservas sem sentido, soma-me meia dúzia de horas para umas quantas de sexo e o restante de conversa de almofada, soma-me anos e décadas e séculos de arrependimentos, de mortes, de choros...