2011

Ficaram assim enterradas todas as saudades de um ano que nos trouxe tanto. Guardando apenas a doçura das memórias que não vão embora com o passar do relógio, memórias de noites que ficam, de carnavais que não vão, de móveis e ikeas, pupilos e generais, ananases e indignas. Memórias de pinar a rir e espernear por mais. Trocas de sapatos lendárias e iogurtes na altura errada. A eterna questão com que nos deixaram: Qual? E as mesmas três de quem vamos recordar com saudade. Confétis em tempos de festa e cálvio V em tempos desesperados. Tudo porque o corpo é que paga e as marcas roubam pedaços de pele e furam-nos a barriga. E as memórias que nos agarram do sushi que comemos e vice-versa, memórias de terapias que nos lavaram o corpo com vitaminas para acordar a alma num elefante. Este ano deixou-me com a certeza de que o lugar do bolo é em cima da cereja, que o lugar do moscatel é em irmandades, e os cogumelos não são feitos para serem comidos. Aprendi que escrever a um querido diário é irónico e que me faz rir sempre que por lá passo, marcou-me como o ano de proteger lareiras, porque a protecção está sempre em segundo, a seguir às minas de formigas ácidas. Bizarro é um eufemismo para os dias que a memória come, e a maionese ficou tão calada a meio, pelo tempo em que me congelavam as veias e me faziam calçar sapatos altos em vestidos até ao pés, e eu me considerava oficialmente uma pantana num quarto de pantanas. MARSHMALLOWS que me marcaram o peito de amores tântricos e beijos nos ombros, noites bem dormidas e silêncios que sabiam bem, celebrados talvez em champanhe e sorvete de limão. celibato, amoras, aranhas e espumantes, saudades e marshmallows. SBSR pelos chuveiros e fotografias de tendas abertas. ficarei sempre com borboletas a crescer na barriga quando me lembrar de óbidos, de rosas e de café. viagens sem volante, tróia, zêzere e fogueiras.

E memórias como estas ficam e foram feitas a Contraluz.

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