derrames no fundo do oceano (e de nós)

A manhã vai sempre gelar-me as veias, e conservar a amargura desta cama vazia e deste peito que pede desesperadamente para ser enchido. A memória da tua pele contra a minha sabe-me a veneno quando a minha língua insiste em lamber os lábios doridos da tua saudade, e aquela sensação de que me falta qualquer coisa, qualquer abraço numa manhã fria, essa sensação soa-me a gelo, dá-me vontade de parar de espernear quando a água em me afogas é tão fria. Eu nunca fui de amores fugazes sequer, tudo em mim estava morto, a minha capacidade de esperar algo de bom estava extinta. Tudo em ti foi fogo na minha pele, foi água quente a fazer o sangue circular de novo, por o coração a bater sem sequer ter de pedir por favor. Tudo em ti eram amores que não acabavam e que me enchiam mesmo quando não lá estavas, tudo eram promessas, sonhos teus que querias tão desesperadamente pregar a uma miúda como eu.
E eu quero acreditar com as forças que ainda me restam que tudo em ti não são mentiras, todas as paixões fugazes que em mim acordaste, eu quero acreditar que não as estás a adormecer agora. Tudo o que sonhei para nós com base nos teus delírios parecem agora apenas ilusões minhas, com nenhuma base nas promessas que eu me lembro tão friamente de ter ouvido e que tu pareces nem te lembrar de ter feito. Sinto-me a apagar nesta cama, sozinha, sem que nenhuma memória de ti reste para mim, sem que nada de ti queira ficar a adormecer a meu lado, porque tudo o que me falas são só palavras sem fundamento e tudo o que me gritas são feridas que eu não consigo fazer desaparecer e que tu não és capaz de curar por mim. Tudo o que resta de ti são bons dias e boas memórias, coisas antigas que ficam à toa e não se afundam, coisas que não são humanamente tão frágeis como nós, que são bem mais fortes do que eu te juro ser e bem mais intemporais do que tu me prometeste.
Boa noite, e obrigada pela memórias que ficam, mas por favor vai.

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