Derrames de gente só
Acordei de um sonho bom fruto de memórias nossas, a realidade soava a picadas de abelha, toda pele doia e inchava. Quando ganhei forças para me levantar, parei em frente do espelho de corpo inteiro do quarto. A imagem era abominável, um corpo antes magro estava agora alargado, o cabelo encaracolado e ruivo havia sido substituído por uma cabeça careca e sem cor, os olhos negros estavam agora tapados pelo inchados da noites que não dormi. O coração que tanto havia palpitado nas noites em que me possuías, estava desaparecido, quase no meio do peito havia um enorme buraco, um ferimento com entrada e saída, quase visível se tornava a parede atrás de mim, as tripas fora do corpo, o corpo sem preenchimento, um buraco sem possibilidade de cicatrizar. Desci as mãos até a barriga que tanto me envergonhou e não senti nada, nem gelo, nem fome, o estômago estava vazio, as borboletas tinham ido embora. O sangue escorria-me por entre as pernas e o ventre doía-me, o corpo curvava-se.
Ao amor era imune de novo, a dor era a minha casa finalmente.
Comentários