derrames de corações lascados

Eram seis da manhã quando o meu coração parou naquela cama, a minha respiração acelerada da tua companhia cessou por fim e os meus olhos ficaram cravados nas profundezas daquele tecto de um branco sujo. O teu corpo descansava ao meu lado, os teus braços de estrutura média abraçavam o meu peito imóvel e - se ainda me fosse possível ouvir - a tua respiração entrava no meu ouvido como uma musica de embalar tolos. Sim, tolos, assim me sentia eu enquanto me levantava sem os teus braços mover e ficava de pé a ver o teu rosto iluminado pela luz da lua que entrava naquela janela sem estores. O tempo corria-me nos dedos como sangue de um ferida e tudo me faltava, nada estava no sitio certo. E assim me questionava sobre qual seria a grande peça que faltava, aquela que me fazia sangrar dos olhos lágrimas que não se vêem, só doem. Seria amor, essa fábula para gente nova? Talvez fosse esse grande encaixe que me faltava naquela cama, entre aqueles braços apenas sentia conforto, nada mais, apenas tédio e raiva, raiva e ira de quem não me quer mais num horizonte alargado. Raiva era então a resposta que obtinha ao universo de pétalas que espalhava. 
Se estivesse aqui pétala, dodô, seja quem for. Se estivesses aqui para me ver apagar nos braços de outro que não tu. A terra termina a sua pequena e grande volta em torno do sol e eu termino a minha também, a minha viagem em torno de uma só estrela que foi apagando e que já não quer mais brilhar aqui. Se estivesses por cá, que me farias tu? Talvez soubesses, sempre soubeste, e tomasses em mim pela mão e me levasses mais longe a ver um horizonte que não tivessem raiva e insegurança pelos cantos. Por vezes, um grande amor não é mais que isso, e não é mais que tu, nunca será mais que tu, nunca será aquele que se encaixa numa alma como a minha, nunca será como tu que, esmeralda ou extinto, foste sempre a minha alma gémea. 

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