derrames de perigos
Eu estava tão ocupada em amar-te que me esqueci de mim no meio, esqueci-me que eu não sou o modelo de um doce mulher que vai estar em casa a fazer-te o jantar a cada dia que chagares. Esqueci - ou apenas só agora reparei - que tínhamos objetivos diferentes com os mesmos meios, e só um de nós conseguia fazer o caminho. E eu fui fazendo o caminho a teu lado, em direção à tua meta, com vista apenas um futuro que eu não sabia o quão certo seria. A verdade é que eu não estou preparada para o final de quarentão que esperas de mim, não quero o sexo monótono ou um beijo que vai sempre saber ao mesmo. Quero uma algazarra de almofadas, algo que nunca foi feito antes, algo criado de novo todos os dias, quero uma rosa cheia de espinhos onde possa cravar os dedos com força de vez em quando. Talvez - dirias tu - as nossa definições de amor sejam ainda muito diferentes e tu estejas - afinal de contas e como tanto esperaste - destinado a outra pessoa que não sou eu e a outro tipo de meta que não a minha. Talvez para mim a meta seja ainda o caminho e o percurso de altos e baixos não seja mais uma viagem atordoada - como para ti - mas sim o meu lar, o meu local de eleição. A minha escolha é então ficar aqui, neste barco que oscilante é por natureza e neste mares de que nada sei sem ser o seu perigo. Porque a verdade é que perigoso é tudo o que gosto e tudo o que tenho e perigoso é se calhar tudo aquilo que procuro em ti. E se nessa tua linha direita, com objetivos direitos e relações que ultrapassam a utopia à velocidade da luz, não houver espaço para mim, então talvez eu não faça parte dessa utopia, talvez eu não seja feita para estar na tua utopia.
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