o meu último adeus

É estranho perder algo que nunca tivemos. Como se um buraco ficasse no lugar onde nada existia antes. Como se tivesse perdido uma parte de mim que achava já não ter.

Não é difícil falar sobre a tua partida, ou explicar porquê que ela não me custou o que todos esperavam que custasse. Mas é difícil para mim entender a dor e a tristeza que me inunda sempre que fico sozinha, sempre que o remoinho que é a minha vida é silenciado.

Despedi me de ti muitas vezes e inúmeras te vi partir. Mas talvez uma pequena parte de mim achasse que um dia, num futuro que nunca iria chegar, talvez, e só talvez, tu estivesses lá. Talvez a minha dor seja essa, saber que não há mais talvez ou espaço para desilusões. Não há mais culpas ou solidão, apenas saudade. Saudade de algo que nunca tive. 

E no final, ficou tanto por cobrar, por dizer, por chorar. E agora não há mais mágoa, raiva ou ódio. Apenas a certeza que não tens mais oportunidades de me desapontar. 

Porque no fim, a única coisa que eu queria era mais uma oportunidade. Uma oportunidade de te olhar olhos nos olhos e dizer-te o quanto senti a tua falta todos aqueles anos. Uma última oportunidade para te dizer que o teu filho precisava de ti e te amava. Uma última oportunidade para te dar uma última oportunidade. 


Na vida fala-se muito de karma, de como todos nós um dia vamos pagar pelo que fizemos a nós e aos outros. O meu pai morreu morreu sozinho numa sala de isolamento de um hospital, sem voz, e sem ninguém a quem dar a mão.


A tua divida está paga pai, tens o meu eterno perdão. 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

What it costs

to all the Hans Hubermann