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A mostrar mensagens de maio, 2012
derrames junto do douro e tão longe de mim
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Catarina é um pouco de nada e um pouco de mim, um pedacinho de tudo o que amo e tudo o que temo. Coração forte mas morto, fígado intacto depois de um verão numa herdade. Catarina era o sonho de alguém confuso como eu, os delírios de alguém que nunca sabe onde é o seu lugar. Catarina sou eu e és tu. Tudo o que a rodeia é um pouco de nós. E quando leres as suas páginas, sentires a sua dor, a sua paixão, tu vais ver-te espalhado pelo corpo dela., tu vais ver-te espelhado nas minhas letras.
derrames abertos
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cada um escolhe o seu fardo, corre atrás do prejuízo. escolhe-se as drogas e recolhe-se o pagamento. nunca fomos mais do que carne e osso, nunca fomos mais do que os humanos assustados que éramos quando nos conhecemos. o corpo paga sempre, paga e cobra-nos o tempo e o rasto. cada um escolhe o modo de venda, aquilo que vende aos outros e que dá de si mesmo. eu escolhi-te a ti.
Derrames de gente só
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Acordei de um sonho bom fruto de memórias nossas, a realidade soava a picadas de abelha, toda pele doia e inchava. Quando ganhei forças para me levantar, parei em frente do espelho de corpo inteiro do quarto. A imagem era abominável, um corpo antes magro estava agora alargado, o cabelo encaracolado e ruivo havia sido substituído por uma cabeça careca e sem cor, os olhos negros estavam agora tapados pelo inchados da noites que não dormi. O coração que tanto havia palpitado nas noites em que me possuías, estava desaparecido, quase no meio do peito havia um enorme buraco, um ferimento com entrada e saída, quase visível se tornava a parede atrás de mim, as tripas fora do corpo, o corpo sem preenchimento, um buraco sem possibilidade de cicatrizar. Desci as mãos até a barriga que tanto me envergonhou e não senti nada, nem gelo, nem fome, o estômago estava vazio, as borboletas tinham ido embora. O sangue escorria-me por entre as pernas e o ventre doía-me, o corpo curvava-se. Ao amor era i...
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Era noite cerrada naquela manhã em que me acordaste. A tua voz soava ainda a mel, aconchegando-me o sono e o acordar como os meus lençóis de flanela. Ao inicio a tua voz nao fazia qualquer sentido, as palavras nao eram audíveis aos meus ouvidos por despertar. A falta de clareza na madrugada não durou muito e rapidamente o teu toque tornou-se real como os espinhos ainda de pé da rosa que me ofereceste e que rapidamente perdeu todas as pétalas. Os meus olhos viram nos teus lábios que já não eras esmeralda ou extinto, já não eras meu porque a noite ja se havia despedido no horizonte. "vais embora?" julgo ter perguntado. A minha memória não guardou totalmente a tua resposta, apenas a ideia que transmitiste: um ultimo beijo na testa, a mão a passar suavemente no meu rosto em tom de despedida. A porta bateu, a visão das portas do armário semi vazio desvaneceu nos meus olhos que cerravam com a noite a chegar novamente. Bom dia dodô.
derrames de perigos
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Eu estava tão ocupada em amar-te que me esqueci de mim no meio, esqueci-me que eu não sou o modelo de um doce mulher que vai estar em casa a fazer-te o jantar a cada dia que chagares. Esqueci - ou apenas só agora reparei - que tínhamos objetivos diferentes com os mesmos meios, e só um de nós conseguia fazer o caminho. E eu fui fazendo o caminho a teu lado, em direção à tua meta, com vista apenas um futuro que eu não sabia o quão certo seria. A verdade é que eu não estou preparada para o final de quarentão que esperas de mim, não quero o sexo monótono ou um beijo que vai sempre saber ao mesmo. Quero uma algazarra de almofadas, algo que nunca foi feito antes, algo criado de novo todos os dias, quero uma rosa cheia de espinhos onde possa cravar os dedos com força de vez em quando. Talvez - dirias tu - as nossa definições de amor sejam ainda muito diferentes e tu estejas - afinal de contas e como tanto esperaste - destinado a outra pessoa que não sou eu e a outro tipo de meta ...
derrames de corações lascados
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Eram seis da manhã quando o meu coração parou naquela cama, a minha respiração acelerada da tua companhia cessou por fim e os meus olhos ficaram cravados nas profundezas daquele tecto de um branco sujo. O teu corpo descansava ao meu lado, os teus braços de estrutura média abraçavam o meu peito imóvel e - se ainda me fosse possível ouvir - a tua respiração entrava no meu ouvido como uma musica de embalar tolos. Sim, tolos, assim me sentia eu enquanto me levantava sem os teus braços mover e ficava de pé a ver o teu rosto iluminado pela luz da lua que entrava naquela janela sem estores. O tempo corria-me nos dedos como sangue de um ferida e tudo me faltava, nada estava no sitio certo. E assim me questionava sobre qual seria a grande peça que faltava, aquela que me fazia sangrar dos olhos lágrimas que não se vêem, só doem. Seria amor, essa fábula para gente nova? Talvez fosse esse grande encaixe que me faltava naquela cama, entre aqueles braços apenas sentia conforto...
Derrames de netos de amam e nunca esquecem
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"Tens noventa anos. És velha, dolorida. Dizes-me que foste a mais bela rapariga do teu tempo – e eu acredito. Não sabes ler. Tens as mãos grossas e deformadas, os pés encortiçados. Carregaste à cabeça toneladas de restolho e lenha, albufeiras de água. Viste nascer o sol todos os dias. De todo o pão que amassaste se faria um banquete universal. Criaste pessoas e gado, meteste os bácoros na tua própria cama quando o frio ameaçava gelá-los. Contaste-me histórias de aparições e lobisomens, velhas questões de família, um crime de morte. Trave da tua casa, lume da tua lareira – sete vezes engravidaste, sete vezes deste à luz. Não sabes nada do mundo. Não entendes de política, nem de economia, nem de literatura, nem de filosofia, nem de religião. Herdaste umas centenas de palavras práticas, um vocabulário elementar. Com isto viveste e vais vivendo. És sensível às catástrofes e também aos casos de rua, aos casamentos de princesas e ao roubo dos coelhos da vizinha. Tens grandes ódios por ...