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A mostrar mensagens de fevereiro, 2011

putas modernas

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E eu cheguei ao ponto de não saber mais quem tem a razão, as pessoas e a suposta lógica que usam e abusam para viver ou sobreviver entre os outros já não faz qualquer sentido. Para eles, pensar é um cliche , como dar rosas a uma mulher, todos o fazem, todos chegam a mesma definição de bem e mal e no final, a história e sempre a mesma. Caiu, berrou . Se calhar fui eu que pensei mais, ou menos, mas foi-me impossível chegar a uma definição concreta de todas essas questões morais que tanto discutem em conversas de café, esquecidas entre o pacote de açúcar e os cinzeiros. Viver aqui tornou-se imoral, errado, como se já não fizesse qualquer sentido ouvir as vossas palavras rascas, suadas e empobrecidas nas vossas mentiras de putos mimados. Não faz mais sentido os sorrisos cínicos à meia luz de um bar já fechado, chega de mentiras assim, de cacos assim, tão docemente cristalizados nas vossas epidermes pálidas, homogéneas no meio de tantos iguais. Ser humano tornou-se mau, pecaminoso, sê-lo nã...
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e foi rasco de ti achar que em mim podias ficar. foi tão tipicamente ordinário que fizesses de mim uma puta como todas as outras. e eu que tanto me martirizo por achar que fui tão fácil, porque é isso que achas não é? achas que fui tão facilmente tua que nem consegues por em questão a minha capacidade de te ser fiel. achaste que, lá porque tinha voltado, isso significava que seria tua, de corpo inteiro e alma vazia, sim, porque tu nem interesse tinhas na minha alma existente. nunca quiseste saber, nunca ousaste ler as minhas entrelinhas, a minha maneira de ser sarcástica, de usar tanto hipérboles como eufemismos. nada disso era do teu interesse, chegavam-te umas dentadas ao de leve, uma respiração suave nos teus ouvidos, que te levavam a um orgasmo tão fácil e rápido. para ti, desde que a minha interacção permanecesse um mistério para a tua precária mente, então tudo estava bem, porque no teu pensamento primário, tudo o que era novo e que ainda não tinhas visto noutro alguém, era perfe...

lábios cremados

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e naquela manhã empoeirada, num quarto sujo dos meus orgasmos fingidos, sob o ar carregado dos teus inaudíveis gemidos, os teus lábios souberam a pó. nada em ti soube e mim, nada pela manhã teve o perfume da noite anterior, dos dias anteriores. e não porque estavas gasto, demasiado usado apesar da tenra idade, não. o teu desgaste era de mim, de um corpo que conhecias como impuro, que sabias não ser fiel ao que desejava. sentia ainda os teus lábios cerrados sobre os meus seios quase inexistentes de miúda, e a ideia de te ter na mesma cama, desnudado de tudo, seria sempre o auge da minha libido. mas a ideia de te ter comigo, sempre na mesma mesa de jantar, em diferentes salas de cinema, já não seria o auge da minha satisfação pessoal, apenas um carrego, algo que seria desconfortável com o passar das horas. já não conseguia amar-te. naquela manhã, o meu corpo levou a minha alma à imunidade de algo tão dramático como amar.

amor é crença

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- porque deixaste de cá vir? de apanhar o mesmo autocarro todas as sextas? - porque a minha frieza tornou-se volátil entre os teus lábios grossos e novos. por vezes, nua na tua cama vazia de todas elas, eu sentia-me vulnerável, não por saber que os teus ouvidos se enchiam de orgasmos alheios (porque eu sei que não), mas sentia-me completamente desarmada pelo teu encanto de miúdo novo, feliz. estar contigo mostrou-se um perigo, já não era seguro que poderia sair dai como tinha entrado, com o queixo erguido. - amar é ser vulnerável, sempre ouvi dizer. - o amor está morto miúdo, há muito. o amor é uma hipérbole usada pelos poetas, o amor é sobrevalorizado, tal como a perfeição. não faz parte de nós. o  amor  de que tanto falas está sujo, completamente embriagado connosco, faz-nos companhia nestas ruas que pela noite fora se vão entortando. amor... - porque te custa assim tanto acreditas que me amas? - porque sobre o amor fizeram-se cântigos antigos, musicas modernas, livros ...

à tona

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Mas eu ainda creio que és doce, que bem no fundo não passas de algo quente que for amornado até se tornar um gigantesco e intocável cubo de marfim. Mas eu sei que ainda és fina, de um certo modo delicada, que o teu pai ainda acha que bebes água em todos os jantares e que dormes sempre em casa de amigas diferentes, cujos nomes vais inventando com base na imaginação da noite anterior. Tudo porque tu não és tão fel assim, não és esse ácido que juraste a ti mesma cumprir, és - novamente - algo que era doce e que foi amargando ao longo do tempo, foi ficando enferrujado e perdendo a prática, o jeito. Mas no final de contas, tu foste a que nunca se deixou estagnar, a que não se deixou apodrecer e morrer nas mesmas ruas ordinárias de tantos outros sem nome. Tu ficaste acordada, alerta em relação a noites como aquelas em que foste deixada nua, sozinha, na tua piscina da casa de verão. Pronta a afogamento, longe de tudo o que - todo os dias - luta para te deixar a tona.