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A mostrar mensagens de março, 2011

derrame embriegado

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bebedeiras repetidas, simples utopias do que costumava ser a saudade, a cerveja entornada sobre as pedras da calçada daquela cidade alheia, e as manchas de vinho tinto nas roupas já escarlate. saudade, soubesse eu explicar o que fora para mim essa palavra tão portuguesa, a maior das fantasias humanas, a ideia de amar e ser amado, bebedeiras apenas, palavrões de taberneiros, nada mais do que lágrimas que embebedam vagabundos, do que crenças pura e ingenuamente infantis. e ainda assim, certa de que no amor nada nos resta para além da eterna sofreguidão dos outros, a utopia de querer comer sem ser comido, ainda assim me perco, entre os desastres esperançosos de amores históricos, quando a única coisa que quero dizer-te é que o meu amor - utópico, ridiculamente irreal e injustamente morto - te espera neste espaço psicológico de inferno e insatisfação, no desassossego deste ruivos caracóis, de robe escarlate, sobre a lividez d...

derrames de esquinas distintas

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o silêncio do meu próprio corpo derrete-me a alma, este desassossego de quer ser tão intocável, de quem quer ter o que tinha sem sofrer as consequências do tempo, dos dias. enganei-me, quis ser aquilo que o meu padrão me pede, quis ser imune as consequências dos meios que nunca justificariam o fim. e quis morrer de amores em esquinas diferentes, quis que um deles me levasse ao nirvana inatingível e me conservasse tóxica no apogeu daquele orgasmo. quis que uma dessas esquinas me engolisse, me amasse desse modo que só eu entendo, de um modo imensamente carnal mas que nada acrescenta à minha viagem interior. e quis que essa relação de esquina se mantivesse saudável, que amar assim me mantivesse doente de tão apaixonada. mas o amor morreu, morreu longe, numas quantas esquinas à frente, morreu de frio por andar nu na rua, em correrias desenfreadas sobre uma chuva gelada de um inverno violento. e a minha...

derrames incendiários

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a vida toda ouvi dizer: onde há fumo, há fogo . e vou calhar aqui, neste metro quadrado de cidade onde a lei é: onde é fosforo, há incêndio.

derrame de nicotina

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por favor, deixa-me só fumar um último cigarro antes de fechar a janela, o último antes de apagar a televisão, por favor, só mais um antes de me meter nessa nossa cama. deixa-me só afogar-me num vicio mais antes de me deitar aí, onde - embora acompanhada - terei frio a noite toda, aí onde os fantasmas tanto aplaudem as minhas lágrimas de bela adormecida, aí onde adormecerei a chorar bem longe desses teus braços abertos. para acordar de manhã num sufoco, com a ideia de que de um sonho se trata, e assim que a realidade de der um valente estalo pela manhã, eu vou ligar a rádio, vou acordar-te o sono, vou abrir a janela e fumar o que resta do meu maço.  e vou matar-me assim, desgostosa porque a realidade a mim não me diz nada.

derrame vazio, completamente morto.

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hoje, logo hoje que toda esta raiva me enche o peito vazio. hoje a poligamia morreu nos meus lençóis porcos, morreu nua, de cigarro na mão e linha ainda torta, morreu sedente, completamente insaciável, porque nenhum alguém a fazia gemer do jeito que mais gostava. a poligamia morreu - como sempre - sozinha, sem padre à cabeceira, apenas uma garrafa quase vazia de aguardente velha, um tanto ou quanto entornada. e o erotismo morreu assim, quase tão virgem como a freira, sem conseguir reter na memória morta algo de bom para guardar, um gemido apenas, um cliente apenas que tivesse valido a memória. mas não, esta puta morreu-me assim, sozinha, sem ter tido tempo para me alinhar a branca, morreu-me doente, tão podre no físico como na alma. sozinha, repito: sozinha . e a consciência, calada desde que sou capaz de recordar apenas tossia.  cínica, ficou calada anos a fio, viu-me morrer em bebedeiras sóbrias dos outros, viu-me foder a vida mais do...
Hoje o meu corpo torna-se cadaver. Logo hoje, quando o mundo se decidiu a ser o meu caixão